O Papa celebra hoje o  11.º aniversário da sua eleição, num percurso marcado pela preocupação com a  renovação da Igreja e a atenção às crises sociais e humanas nos vários  continentes.

Desde a sua primeira  viagem, à ilha italiana de Lampedusa, a 6 de julho de 2013, Francisco alertou  para a “globalização da indiferença”, seguindo-se várias críticas contra o  “dogma” neoliberal – denunciando uma economia que “mata” -, pedindo maior  atenção às “periferias” geográficas e existenciais.

Entre 2014 e 2015, a  Igreja Católica viveu um processo sinodal dedicado à família, que chamou a  atenção da opinião pública pela atenção dedicada aos casais em segunda união  e à defesa da misericórdia como critério pastoral.

“As situações de  miséria e de conflitos são para Deus ocasiões de misericórdia. Hoje é tempo  de misericórdia”, disse Francisco, no final da assembleia geral ordinária de  2015.

Ainda em 2015, o Papa  lançou a primeira encíclica dedicada ao tema da ecologia, ‘Laudato si’, na  qual defende a valorização do ser humano, da natureza, da fé e da cultura  para superar a atual crise ambiental.

Francisco pede “um  olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um  estilo de vida e uma espiritualidade” que consigam resistir ao “avanço do  paradigma tecnocrático”.

O tema da misericórdia  esteve no centro do Jubileu extraordinário que se encerrou em 2016, durante o  qual, simbolicamente, o Papa canonizou Madre Teresa de Calcutá.

 “Comprometeu-se na  defesa da vida, proclamando incessantemente que quem ainda não nasceu é o  mais fraco, o menor, o mais miserável. Inclinou-se sobre as pessoas  indefesas, deixadas a morrer à beira da estrada, reconhecendo a dignidade que  Deus lhes dera; fez ouvir a sua voz aos poderosos da terra, para que reconhecessem  a sua culpa diante dos crimes – diante dos crimes! – da pobreza criada por  eles mesmos”, referiu.

 

A 12 e 13 de maio de  2017, o Papa cumpriu a sua primeira visita a Portugal, assinalando o  centenário das Aparições de Fátima, num programa de celebrações que inclui a  canonização dos dois pastorinhos mais jovens, Francisco e Jacinta Marto.

 A 4 de fevereiro de  2019, em Abu Dhabi, Francisco assinou a declaração sobre a Fraternidade Humana,  com o grande-imã de Al-Azhar, a mais importante instituição do Islão sunita.

 “Hoje também nós, em  nome de Deus, para salvaguardar a paz, precisamos de entrar juntos, como uma  única família, numa arca que possa sulcar os mares tempestuosos do mundo: a  arca de fraternidade. O ponto de partida é reconhecer que Deus está na origem  da única família humana”, declarou, perante representantes de várias  religiões, na primeira visita de um pontífice à Península Arábica.

De 21 a 24 de  fevereiro de 2019, Francisco fez história ao convocar para o Vaticano  presidentes de conferências episcopais, religiosos, vítimas, responsáveis da  Cúria Romana e jornalistas para debater a crise provocada pelos casos de abusos sexuais  e as políticas a implementar para a proteção de menores.

A 27 de março de  2020, numa Praça de São Pedro deserta, por causa da pandemia de Covid-19,  e debaixo de chuva intensa, o Papa presidiu a uma celebração com bênção  especial ‘urbi et orbi’ [à cidade (de Roma) e ao mundo] –, falando de uma  humanidade em que todos estavam “no mesmo barco”.

Para esta oração,  foram levados até ao Vaticano o ícone de Maria ‘Salus populi Romani’, que se  venera na Basílica de Santa Maria Maior, local onde o Papa costuma rezar  antes e depois de cada viagem internacional, para pedir a intercessão da  Virgem Maria; e a cruz venerada na igreja de São Marcelo al Corso, um  crucifixo considerado milagroso que, segundo a tradição popular, pôs fim à  peste de 1522.

A primeira viagem  internacional depois da pandemia teve como destino o Iraque,  em março de 2021, com uma passagem pela cidade de Mossul, ainda a recuperar  da destruição do autoproclamado Estado Islâmico.  

“Se Deus é o Deus da  vida – e assim é –, não nos é lícito matar os irmãos no seu nome. Se Deus é o  Deus da paz – e assim é –, não nos é lícito fazer a guerra no seu nome. Se  Deus é o Deus do amor – e assim é –, não nos é lícito odiar os irmãos”, disse  Francisco, no ‘Hosh al-Bieaa’ (praça das igrejas), diante de locais de culto  danificados ou destruídos pelo Daesh, entre 2014 e 2017.  

A segunda viagem  do Papa a Portugal decorreu de 2 a 6 de agosto, para presidir  à Jornada  Mundial da Juventude 2023, em Lisboa, e visitar o Santuário  de Fátima, reforçando intervenções em favor de uma Igreja mais aberta.

“Jovens e idosos,  sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há lugar  para todos”, disse, no primeiro encontro com peregrinos, que decorreu no  Parque Eduardo VII.

Mais de 1,5 milhões  de pessoas viriam a participar nas celebrações conclusivas, acolhidas pelo renovado  Parque Tejo.  

O Papa, que reformou  a Cúria  Romana e as instituições financeiras do Vaticano, tem vindo a  enfrentar problemas de saúde, com limitações de mobilidade, e enfrenta  tensões internas, visíveis nas recentes polémicas relativas à declaração sobre  bênçãos a casais em situação irregular.  

O processo  sinodal 2021-2024, dedicado ao tema da sinodalidade, tem  mobilizado milhares de comunidades católicas e aponta a um novo modo de ser  Igreja, marcado pela escuta e a responsabilização de todos.  

“Uma Igreja de jugo  suave, que não impõe pesos e, a todos, repete: Vinde, cansados e oprimidos;  vinde, vós que vos extraviastes ou sentis distantes; vinde, vós que fechastes  as portas à esperança: a Igreja está aqui para vós! A Igreja das portas  abertas para todos, todos, todos”, disse Francisco, na Missa de abertura da  XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo, em outubro de 2023.

Do ponto de vista  global, a atenção tem estado centrada no conflito na Ucrânia, após a invasão  russa de 24 de fevereiro de 2022, e na guerra que rebentou na Terra Santa, em  outubro de 2023.

 

Aos 87 anos de idade, completados no último dia 17 de  dezembro, Francisco é o terceiro pontífice mais velho a governar a Igreja,  nos últimos 700 anos.

Jorge Mario Bergoglio  nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, a 17 de dezembro de 1936; filho  de emigrantes italianos, trabalhou como técnico químico antes de se decidir  pelo sacerdócio, no seio da Companhia de Jesus, licenciando-se em filosofia e  teologia.

Ordenado padre a 13  de dezembro de 1969, foi responsável pela formação dos novos jesuítas e  depois provincial dos religiosos na Argentina (1973-1979).

João Paulo II  nomeou-o bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 e foi ordenado bispo a 27 de  junho desse ano, assumindo a liderança da diocese a 28 de fevereiro de 1998,  após a morte do cardeal Antonio Quarracino.

O primaz da Argentina  seria criado cardeal pelo Papa polaco a 21 de fevereiro de 2001, ano no qual  foi relator da 10ª assembleia do Sínodo dos Bispos.

Tem como lema  ‘Miserando atque eligendo’, frase que evoca uma passagem do Evangelho segundo  São Mateus: “Olhou-o com misericórdia e escolheu-o”.

O cardeal Jorge Mario  Bergoglio foi eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, após a  renúncia do agora Papa emérito, assumindo o inédito nome de Francisco; é  também o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja.

Desde 2013, fez 44  viagens internacionais, nas quais visitou 61 países, incluindo Portugal (2017  e 2023), Brasil, Jordânia, Israel, Palestina, Coreia do Sul, Turquia, Sri  Lanka, Filipinas, Equador, Bolívia, Paraguai, Cuba, Estados Unidos da  América, Quénia, Uganda, República Centro-Africana, México, Arménia, Polónia,  Geórgia, Azerbaijão, Suécia, Egito, Colômbia, Mianmar, Bangladesh, Chile, Perú,  Bélgica, Irlanda, Lituânia, Estónia, Letónia, Panamá, Emirados Árabes Unidos,  Marrocos, Bulgária, Macedónia do Norte, Roménia, Moçambique, Madagáscar,  Maurícia, Tailândia, Japão, Iraque, Eslováquia, Chipre, Grécia (após ter  estado anteriormente em Lesbos), Malta, Canadá, Cazaquistão, Barém, RD Congo,  Sudão do Sul, Hungria (após uma primeira passagem por Budapeste) e Mongólia;  Estrasburgo e Marselha (França), Tirana (Albânia), Sarajevo  (Bósnia-Herzegovina) e Genebra (Suíça).

Dentro da Itália, o  Papa visitou mais de 50 localidades, incluindo a ilha de Lampedusa e a cidade  de Assis.

Entre os principais  documentos do atual pontificado estão as encíclicas ‘Fratelli Tutti’ (2020),  sobre a fraternidade humana e a amizade social; ‘Laudato si’ (2015), dedicada  a questões ecológicas; a ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé, 2013), que recolhe  reflexões de Bento XVI; as exortações apostólicas ‘Evangelii Gaudium’ (A  alegria do Evangelho); ‘Amoris Laetitia’ (A alegria do amor), após as duas  assembleias sinodais sobre a família, de 2014 e 2015; “Gaudate et Exsultate”,  sobre o chamamento à santidade no mundo atual; “Christus Vivit”, dedicado aos  jovens, após o Sínodo de 2018; e “Querida Amazónia”, na sequência do Sínodo  especial dedicado a esta região, em 2019.

A 4 de outubro foi publicada  a exortação ‘Laudate Deum’, que deu continuidade à reflexão sobre ecologia  integral lançada em 2015, alertando para um “ponto de rutura” na crise  ambiental.

O texto visava  preparar a COP28, no Dubai, onde se fez anunciar a presença de Francisco, cancelada  por motivos de saúde – sendo o seu discurso lido pelo secretário de Estado do  Vaticano.

No atual pontificado  foram proclamados mais de 900 santos e santas – incluindo um grupo de 805  cristãos que morreram em Otranto (Itália), às mãos dos otomanos muçulmanos em  agosto de 1480 – e mais de 1440 novos beatos.

 O elenco inclui   incluindo várias figuras ligadas a Portugal: Francisco e Jacinta Marto,  pastorinhos de Fátima, canonizados a 13 de maio de 2017 na Cova da Iria; D.  Frei Bartolomeu dos Mártires (1514-1590), arcebispo de Braga, por canonização  equipolente (dispensando o milagre requerido após a beatificação); o  sacerdote português Ambrósio Francisco Ferro, morto no Brasil a 3 de outubro  de 1645 durante perseguições anticatólicas, por tropas holandesas; o padre  José Vaz, nascido em Goa, então território português, a 21 de abril de 1651,  que foi declarado santo no Sri Lanka; e José de Anchieta (1534-1597),  religioso espanhol que passou por Portugal e se empenhou na evangelização do  Brasil.

Francisco convocou ainda nove Consistórios, nos  quais criou 142 cardeais, entre eles D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal; D.  Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa; D. António Marto, bispo emérito  de Leiria-Fátima; e D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a  Cultura e Educação.

O atual Papa criou,  entre outros, o Dia Mundial dos Pobres, o Domingo da Palavra de Deus e o Dia  Mundial dos Avós e dos Idosos.

 

Fonte : ECCLESIA - Octávio Carmo

 

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