Entre os dias 13 e 19 de novembro, o Centro Salesiano do Aprendiz (CESAM) de Goiânia promoveu um ciclo de palestras sobre racismo estrutural, incentivando o diálogo e a reflexão entre os jovens atendidos no Programa de Socioaprendizagem. A iniciativa integra o calendário temático anual da Formação Permanente de Aprendizes, sendo uma das principais atividades formativas do Mês da Consciência Negra na instituição. Durante este período, a qualificação socioprofissional desenvolve uma programação que reforça a troca de conhecimentos, a conscientização sobre a igualdade étnico-racial e a celebração da cultura negra.
Organizada pela Comissão de Inculturarte do CESAM Goiânia, a palestra destacou a urgência de discutir o racismo estrutural, abordando aspectos históricos e sociais e os impactos da discriminação racial no cotidiano. Com apoio do Ministério da Igualdade Racial, uma pesquisa realizada pelas organizações Vital Strategies Brasil e Umane revela que cerca de 85% da população preta afirma ter sofrido discriminação racial. Segundo levantamento do Datafolha, 59% dos brasileiros acreditam que a maior parte da população é racista. Além disso, 56% apontam que atitudes discriminatórias estão mais presentes no comportamento das pessoas do que nas estruturas sociais. Para 45% dos participantes da pesquisa, o racismo aumentou nos últimos anos.
Comum cenário tão preocupante, os dados reforçam a necessidade de ações contínuas de combate ao racismo com espaços de escuta, acolhimento e formação sobre direitos e deveres. Anna Carollyne Paz é uma das educadoras sociais do CESAM Goiânia que estiveram à frente das palestras do Mês da Consciência Negra e acredita que o momento é essencial. Para ela, a Formação Permanente de Aprendizes dedicada à promoção da igualdade étnico-racial é uma oportunidade para os jovens compreenderem diferentes dimensões da discriminação racial. “Promover essa iniciativa é importante porque muitos jovens vivem os efeitos do racismo todos os dias, mesmo sem perceber. Quando abordo esse tema com eles, minha intenção é dar linguagem, consciência e força para que entendam o que acontece nessas situações e não carreguem culpas que não são deles.”
Além de apresentar dados e conceitos, a formação abordou a presença do racismo estrutural no cotidiano e como ele impacta a vida, sonhos e oportunidades das pessoas em diversos contextos. Os jovens refletiram sobre suas realidades, compartilharam histórias e participaram ativamente da formação, pontuando suas próprias percepções sobre a discriminação racial. “Também tivemos um olhar atento para falar sobre vivências e silenciamentos. Espero que essa atividade fortaleça a autoestima dos aprendizes e contribua para que eles tenham mais confiança para ocuparem espaços profissionais sem medo. O objetivo é que eles entendam seus direitos e percebam que o racismo não define o futuro de ninguém”, afirma Anna Carollyne.
A abordagem próxima contribuiu para que os próprios adolescentes e jovens reconhecessem o racismo estrutural em suas realidades. Para o aprendiz Samuel Ferreira, as atividades de formação colaboram não apenas para o futuro da juventude, mas também o de suas famílias e comunidades. “O Dia da Consciência Negra é muito importante para a nossa sociedade. Mesmo com o fim da escravidão e com o racismo sendo crime, ainda vemos atitudes discriminatórias presentes no nosso dia a dia, muitas vezes disfarçadas de brincadeiras. Acredito que esses momentos nos ajudam a refletir sobre isso e entender como precisamos agir para construir uma realidade mais justa.”
Segundo dados internos do Programa de Socioaprendizagem, cerca de 80% dos aprendizes do CESAM Goiânia se declaram negros ou pardos, reforçando a importância da atividade também como um momento de valorização da cultura afro-brasileira. Entre os conteúdos explorados, os jovens conheceram um pouco da trajetória de Zumbi dos Palmares, líder quilombola cuja morte originou o Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro), instituído pela Lei 10.639/2003. A lei determina também a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira em escolas públicas e privadas.
Durante as palestras, os aprendizes conheceram os principais pontos relacionados à origem histórica do racismo estrutural e à forma como ele se transformou ao longo dos anos. Conduzido pela educadora social Thallya Carvalho, o momento discutiu como essa forma de exclusão se manifesta direta e indiretamente nas instituições, padrões culturais, relações sociais e desigualdades sistêmicas. “Falar sobre racismo estrutural não é apenas discutir um problema social, mas abrir caminhos para que os jovens compreendam a realidade em que estão inseridos e possam agir de forma mais justa, informada e empática. A educação tem o poder de transformar percepções e comportamentos, e acredito que abordar temas como esse contribui diretamente para a formação de cidadãos mais conscientes e comprometidos com a equidade.”
Segundo a educadora, a Formação Permanente de Aprendizes do Mês da Consciência Negra tem impactos significativos no desenvolvimento pessoal, social e profissional dos jovens do CESAM Goiânia. Para ela, a iniciativa é essencial dentro do Programa de Socioaprendizagem, pois contribui para que os adolescentes e jovens da instituição se reconheçam como sujeitos capazes de questionar, refletir e transformar a realidade. “Espero que nossos jovens desenvolvam sensibilidade para identificar situações de discriminação e atuar como agentes de mudança em seus próprios círculos. Profissionalmente, desejo que eles compreendam como o racismo estrutural influencia oportunidades, trajetórias e relações de trabalho, para que possam construir práticas mais inclusivas e responsáveis no futuro.”
A promoção da igualdade étnico-racial é um dos valores institucionais dos ambientes de missão salesiana, que estão presentes em todo o mundo. As atividades do Mês da Consciência Negra no CESAM Goiânia são um convite à reflexão coletiva e reforçam o compromisso com uma sociedade mais justa e igualitária. Além do ciclo de palestras, a programação conta com atividades educativas nos módulos da qualificação socioprofissional, mostra de cinema com histórias de resistência e ancestralidade, e com a Formação Permanente de Educadores.


