No Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, somos chamados a olhar para as raízes de uma dor silenciosa: a infância violada. E a pergunta: que papel estamos desempenhando diante disso? 

Todos os anos, no dia 12 de junho, o mundo volta os olhos para um dos temas mais urgentes e incômodos da realidade social: o trabalho infantil. Com campanhas, postagens, eventos e ações pontuais, relembramos que milhões de crianças e adolescentes ainda são privadas do direito de viver plenamente sua infância. 

Mas a pergunta que nos inquieta é: por que ainda precisamos falar disso em pleno 2025? 

O trabalho infantil não é uma exceção no sistema. Ele é parte estrutural de um modelo econômico que falhou com a infância. Ele acontece não porque “faltam oportunidades” apenas, mas porque há uma escolha política e econômica constante de manter algumas infâncias à margem — as negras, as periféricas, as indígenas, as invisibilizadas. 

Não podemos tratar o trabalho infantil como um erro pontual. Ele é um sintoma cruel de um sistema que naturaliza a exclusão e seleciona quem merece proteção. Enquanto isso, a sociedade acalma quando uma criança que ajuda os pais na rua, vendem doces no sinal ou aprender um ofício aos 8 anos — e chama isso de “exemplo”. Mas por trás dessa romantização, existe a normalização de uma violência. 

Mais do que assistência, presença profética 

Nesse cenário, as instituições sociais e educativas que carregam valores cristãos e salesianos não podem se limitar a ações pontuais. Precisam ser sinais proféticos. E ser profético, hoje, significa denunciar as estruturas que ferem a infância e atuar na base da transformação. 

Como Dom Bosco, que viu nos meninos de Turim mais do que “crianças de rua” — viu filhos de Deus com sede de sentido — somos chamados a olhar com ternura e coragem. A denunciar a fome, a precarização do trabalho, o abandono das políticas públicas e a desigualdade como causas diretas da violação dos direitos da infância. 

Não basta acolher a criança que trabalha: é preciso atuar para que ela não precise mais trabalhar. E isso passa pela formação crítica, pelo diálogo com famílias visando seu fortalecimento, pela articulação com a rede de proteção, pela incidência política local e nacional. 

 Educar é combater o trabalho infantil 

A pedagogia salesiana tem, em sua raiz, uma proposta de salvação pela educação, pela escuta, pelo vínculo e pelo protagonismo. Cada oficina, cada espaço de convivência, cada roda de conversa e cada oportunidade de aprendizagem que oferecemos a uma criança é uma ação direta contra o trabalho infantil. 

Nos Centros Juvenis, nos CESAMs, nas escolas, nas unidades sociais, educamos para a vida. E, ao educar, estamos dizendo à criança: “Você não é só mão de obra. Você é sonho, é dignidade, é esperança.” 

O Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil não é um convite à repetição de estatísticas. É um grito por responsabilidade coletiva. É tempo de reafirmar que, como Ação Social Salesiana, nosso compromisso com a infância precisa ser diário, encarnado, enraizado na escuta e na denúncia. 

É preciso falar sobre isso com os jovens, com os educadores, com as famílias e com os gestores públicos. É preciso perguntar quem são as crianças que trabalham hoje — e quem lucra com isso. E é preciso, acima de tudo, agir com fé, afeto e política. 

Porque combater o trabalho infantil é mais do que um gesto social. É o Evangelho vivo.
É educar com o coração, transformar com coragem e acreditar que toda criança tem o direito de brincar e sonhar. Tem o direito de errar, de aprender, de ser um Ser em plena formação e transformação. Se receber de seus formadores, esse olhar que acolhe e acredita, pode e vai muito longe. 

 

Este artigo foi base de uma roda de conversa (momento formativo) com gestores, equipes técnicas e educadores das obras sociais salesianas da ISJB sobre a temática. 

Esse artigo foi escrito por Carolina Neves de Oliveira, Andressa de Oliveira Lima e Gabriela de Oliveira Sousa

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