Recordamos hoje com carinho nossos familiares e amigos já falecidos. Lembramos seus nomes, seus sorrisos, seus abraços e seu rosto. Revivemos momentos de convivência com eles. Recordamos seu jeito de ser e o que fizeram enquanto estiveram entre nós. E deixamos a saudade nos envolver, talvez a ponto de lágrimas brotarem de nossos olhos.

De certa maneira, nós nos encontramos de novo com eles, neste dia dedicado aos finados. Esse dia especial também nos ajuda a perceber melhor quem somos nós, de onde viemos e para onde vamos. Não seríamos o que somos, se não tivéssemos convivido com as pessoas que hoje recordamos com carinho e saudade. Elas fazem parte de nós. Por isso, hoje as recordamos e agradecemos pelo que representaram e ainda significam para nós. Por outro lado, elas nos recordam que amanhã, não sabemos se ainda distante ou já perto, estaremos lá onde eles se encontram agora.

De fato, nosso caminhar por este mundo não é para sempre, ele tem um tempo limitado. Então hoje é também um dia de tomarmos consciência mais profunda de que nossa vida neste mundo é provisória e passageira.

A Palavra de Deus nos abre uma janela de luz: elas nos revelam um Deus que não nos abandona na morte, mas nos transforma pela ressurreição. O dia de Finados torna-se, por isso, um dia de renovação da nossa fé e da esperança na vida que Deus nos concede também depois de nossa passagem por este mundo.

A morte e ressurreição de Jesus representam um raio de luz em meio às trevas da morte. Vivamos, pois, intensamente este dia. Recordemos nossos familiares e amigos falecidos, visitemos seus túmulos e choremos de saudade, se o coração assim nos pedir. Lembremo-nos de que todos, um dia, vamos morrer. Mas não deixemos de recordar também a morte e ressurreição de Jesus, permitindo que sejamos envolvidos por sua luz, fazendo deste dia também um dia de esperança e de fé.

Do ponto de vista da reação humana, a morte de um familiar ou amigo normalmente causa impacto e provoca reações, pois ela sempre atinge as pessoas, independentemente da situação sociorreligiosa que ocupam. As reações variam entre a indiferença, o pânico ou a atitude de quem assume na fé a realidade da morte. Somente esta última revela o autêntico sentido cristão da morte.

Procuremos olhar para a morte fixando nossa atenção na celebração cristã das últimas despedidas de um ente querido, tendo por base o sentido teológico da morte, expresso no Ritual de Exéquias do Concílio Vaticano II e também o subsídio para as celebrações das exéquias “Nossa Páscoa”, publicado por iniciativa da CNBB. Ao se tratar da reforma litúrgica do Ritual de Exéquias o Concílio Vaticano II quis que fosse dada maior ênfase à “índole pascal da morte cristã” (SC 81).

Esta preocupação fez-se necessária porque no decorrer dos séculos a celebração da morte foi entendida mais como sufrágio e propiciação pelas “almas dos defuntos” (intercessão pelo perdão de seus pecados), do que como participação do fiel no mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Embora seja importante pedir a Deus pela salvação dos defuntos, este não é o principal aspecto da celebração das exéquias. Desde as origens e ao longo da Tradição a morte sempre foi entendida como passagem para a vida eterna, chegando o Apóstolo Paulo a desejá-la: “o viver para mim é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,21).

Compreendida como a páscoa definitiva de cada cristão, a morte é iluminada pela fé em Jesus ressuscitado. Torna-se anúncio e, ao mesmo tempo, realização da promessa de vida em plenitude. Afinal, do mesmo modo como o Pai ressuscitou Jesus dentre os mortos, também ressuscitará o nosso pobre corpo mortal e o fará semelhante ao Corpo glorioso do Senhor. Este é o fundamento da esperança cristã e o consolo para o povo ainda a caminho, em meio às lágrimas da saudade, até que chegue ao Reino definitivo. Libertado dos laços da morte pelo sacrifício do Cordeiro imolado na cruz, o cristão participa do mistério de Cristo através de ações simbólico-sacramentais ao longo de sua existência, a começar pelo batismo, e adquire proporções cada vez mais intensas de configuração a este mistério até que chegue à manifestação de sua plenitude na eternidade, o que se dá pela morte real de cada pessoa.

A experiência da morte e ressurreição em Cristo, antecipada misticamente no batismo, completa-se na morte real de cada cristão. A partir disso, pode-se afirmar que a morte do cristão é a sua derradeira páscoa, na páscoa de seu Deus e Senhor. No dizer dos santos Padres é o dia do seu verdadeiro nascimento.

Esse arquivo foi elaborado pelo Edilson Agreson da Silva, SDB.

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