
É com alegria que me dirijo a vós e, convosco, agradeço ao Senhor pelas grandes coisas que realiza na Igreja e na história do nosso Instituto, com a intervenção direta de Maria Auxiliadora.
Estou convencida de que a iminente canonização da Irmã Maria Troncatti é, para todas as Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) , uma graça extraordinária, um chamado a renovar-nos, para continuar com coragem e alegria o caminho de santidade que hoje Deus nos pede para percorrer.
Gostaria de deter-me mais uma vez convosco sobre sua pessoa, sobre sua santidade.
A definição que resume tudo em poucas palavras é, sem dúvida, a de uma Filha de Maria Auxiliadora feliz e fiel e, por isso, Mãe! Nela, destaca-se claramente a dimensão materna que gera abundância de vida ao seu redor e encontra sua fonte numa profunda intimidade com o Senhor.
Podemos descrever a Irmã Maria como uma mulher realmente apaixonada de Jesus e por Jesus. O segredo de sua doação incondicional nasce da oração constante, de permanecer diante de seu Senhor; de deixar-se encher o coração do Seu Amor. Durante o dia, caminha com o rosário na mão, confiando-se à proteção de Maria, Auxílio e Guia nos momentos de alegria, de sacrifício ou de perigo. É Mãe incansável no seu serviço aos pobres, aos pequenos, aos doentes e sem confiança, tanto aos “seus” queridos Shuar quanto aos colonos. Doa-se com ternura e amor à humanidade ferida, testemunhando, especialmente na selva equatoriana, o amor do Pai por todos os seus filhos.
Por isso, é carinhosamente chamada madrecita. É belo constatar que, conservando as características de uma mulher humilde e consciente de sua fragilidade, realiza-se plenamente como missionária salesiana, corajosa, audaz, uma mulher de fronteira, uma Filha de Maria Auxiliadora profética, capaz de inculturar-se numa realidade particularmente desafiadora como a selva do Equador, encarnando os traços mais significativos do carisma salesiano.
Um dos aspectos mais característicos de sua espiritualidade é a relação de afetuosa confiança com Maria Auxiliadora. Olhando para Ela, aprende a ser "auxiliadora" para as pessoas que lhe são confiadas. Em Irmã Maria, a filiação mariana não é apenas um sentimento, mas uma realidade profunda, vivida conscientemente como itinerário de formação cristã e salesiana. Por isso, transforma-se em dom de maternidade no estilo do Sistema Preventivo. A essência da vocação salesiana é, de fato, de caráter materno na acolhida, no respeito aos ritmos de cada pessoa, um amor materno delicado e afetuoso, mas ao mesmo tempo firme e decidido.
Na selva amazônica, como escreve ela mesma, é "cada dia mais feliz" por sua vocação religiosa emissionária, e a medida de sua paixão missionária é sempre, como escreve aos seus queridos, "comtodo o coração".
Nos 47 anos de vida missionária, teve o único objetivo de ajudar as pessoas a encontrar Jesus. Curaas feridas dos corpos martirizados dos Shuar, que se matam entre si em nome da vingança, masbusca de todas as formas falar-lhes de perdão, de reconciliação, de Evangelho.
Age em defesa dos direitos e das perspectivas de bem dos indígenas, quando os colonos abusam desua posição sobre eles, e cuida indistintamente de uns e de outros, ajuda-os a viver de forma maisfraterna. Educa as mulheres colonas a semear entre o povo palavras de bondade, de justiça, defraternidade, de igualdade, sabendo que, através do poder educativo das mulheres, é possível chegarao coração dos homens, é possível educar a uma convivência recíproca mais respeitosa.
Tudo isso até à oferta total da vida.Após a morte da Irmã Maria, colonos e Shuar sentem ainda mais fortemente sua presença e voltama conviver juntos com fraternidade. O arco-íris que permaneceu no céu até o momento de seusepultamento é um sinal evidente disso.
O Papa Francisco, na homilia de 15 de maio de 2022, havia dito que a santidade não é feita depoucos gestos heroicos, mas de muito amor expresso na quotidianidade. Os santos são nossoscompanheiros de viagem, que viveram a santidade abraçando com entusiasmo sua vocação e, porisso, tornaram-se reflexos luminosos do Senhor na história.
E o Papa Leão XIV, na catequese de quarta-feira, 28 de maio p.p., refletindo sobre a parábola do Bom Samaritano, destacou que antes de ser crentes, somos chamados a ser humanos, e é justamenteesse ser humanos, ou seja, compassivos diante das fragilidades, das fraquezas, das feridas, dassituações de necessidade, que se torna uma oportunidade de testemunhar o Evangelho comcredibilidade e contágio. Foi assim que viveu a Irmã Maria Troncatti, sempre em saída,profundamente humana e, por isso, verdadeira missionária segundo o Coração de Deus.
Acolhamos as palavras do Papa Francisco e do Papa Leão como um convite a renovar-nosinteriormente e confiemos nossa missão a Maria, Mãe da Igreja e primeira Missionária, naconsciência de que, assim como foi para os nossos Fundadores e para a Irmã Maria Troncatti, é Elaquem nos guia, nos ajuda, mantém nosso olhar aberto às novas realidades com coração missionárioe profético, um coração rico de humanidade, de compaixão, de esperança
Fonte: Instituto Filhas de Maria Auxiliadora