Em tempos de relações fragilizadas e discursos agressivos, o bullying se tornou uma das expressões mais preocupantes da violência que atravessa nossa sociedade. Mais do que um conflito passageiro, trata-se de uma prática repetida, intencional e muitas vezes silenciosa, que causa dor, humilhação e exclusão. Crianças, adolescentes, jovens e adultos sofrem com diferentes formas de violência — seja no ambiente escolar, familiar, profissional ou digital. Por isso, o combate ao bullying é um compromisso coletivo, que exige escuta, empatia e responsabilidade compartilhada. 

Nas obras sociais salesianas, o enfrentamento a essa realidade é parte do compromisso diário de educar e evangelizar, pois compreendemos que o ato intencional de quem pratica o bullying pode estar carregado de traumas e da reprodução da violência vivenciada diariamente. Inspiradas no Sistema Preventivo de Dom Bosco, as ações educativas e pastorais buscam cultivar ambientes seguros, acolhedores e marcados pela presença amorosa dos educadores, onde cada pessoa possa se sentir vista, ouvida e valorizada. 

O Sistema Preventivo nasce de um olhar profundamente humano e cristão. Dom Bosco acreditava que toda forma de violência é, antes de tudo, um grito por amor e sentido. Sua experiência pessoal o ensinou isso. Filho de uma família simples e órfão de pai ainda criança, cresceu em meio a dificuldades e testemunhou desde cedo a dureza da vida. Quando adulto, ao visitar as prisões de Turim, deparou-se com jovens esquecidos, invisibilizados, que reproduziam a mesma violência que haviam sofrido. Mas, em vez de julgá-los, Dom Bosco os olhou com misericórdia. Reconheceu neles não o erro, mas a semente do bem que ainda podia florescer. 

Essa postura, tão profundamente evangélica, é o coração do Sistema Preventivo. Dom Bosco não esperava o erro para agir; ele se antecipava com amor, presença e escuta. A tríade da razão, religião e amorevolezza (amor educativo) é o caminho para formar corações capazes de viver a fraternidade. Onde há diálogo e confiança mútua, o bullying perde espaço. Prevenir, na perspectiva salesiana, é estar presente, é “assistir” com ternura, é criar um clima de família onde cada jovem — e cada educador — se sinta seguro para ser quem é, e crescer em liberdade e responsabilidade. 

Educar para prevenir a violência é, portanto, educar para o amor. É ajudar o ser humano a reconhecer sua dignidade e a respeitar a do outro. É ensinar que a verdadeira força está no cuidado, na empatia e na cooperação. Nas casas salesianas, cada projeto, cada atividade e cada encontro comunitário são oportunidades para fortalecer vínculos e curar feridas. Quando um educador salesiano se aproxima de um adolescente com paciência e alegria, ele faz ecoar o mesmo gesto de Dom Bosco: olhar para além do comportamento e enxergar a essência. 

O combate ao bullying, nesse sentido, não se limita a campanhas pontuais ou regras disciplinares, mas nasce de uma opção educativa inspirada no Evangelho e na pedagogia da presença. É um compromisso de toda a comunidade educativa em viver o amor como método e a prevenção como atitude. Dom Bosco acreditava que o coração humano é terra fértil — basta que alguém acredite nele. 

Mais do que combater a violência, somos chamados a semear o amor. E, neste tempo em que celebramos o Jubileu da Esperança, somos convidados a ser portadores de esperança em meio às tantas violências da vida, testemunhando, com gestos concretos e cotidianos, que o amor continua sendo o caminho mais seguro para transformar o mundo. 

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