A Solenidade de Cristo Rei do Universo, que encerra o ano litúrgico, não celebra um monarca como os deste mundo. A sua realeza não se assenta em palácios de ouro, mas na Cruz. Não é imposta pela força das armas, mas oferecida pela força do amor. Esta aparente contradição – um rei crucificado – é o mistério cristão e encontra uma ilustração poderosa no testemunho dos mártires e no Magistério da Igreja.
A verdade que liberta
O Papa Pio XI, na Encíclica Quas Primas (1925), que instituiu esta solenidade, oferece a chave de interpretação. Ele escreveu num contexto de ascensão de regimes totalitários que pretendiam dominar não apenas os corpos, mas também as almas dos cidadãos. Perante estes "reis" terrenos, a Igreja proclamou Cristo como o único Rei cujo domínio é eterno e universal.
No entanto, Pio XI é claro: "O reino de Cristo é principalmente espiritual e concerne às coisas espirituais". O seu poder não esmaga a liberdade humana; pelo contrário, eleva-a e realiza-a. A famosa resposta de Jesus a Pilatos – "O meu reino não é deste mundo" (Jo 18,36) – é o fundamento. Cristo reina quando os corações se convertem, quando a justiça e a paz são estabelecidas não por decretos, mas pela caridade. A sua autoridade máxima é o serviço: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10,45). Portanto, celebrar Cristo Rei é submeter a nossa liberdade à Verdade que nos liberta, é reconhecer que a soberania de Deus se manifesta plenamente no ato de maior humildade: o sacrifício redentor.
A Fé que coroa a realeza de Cristo
A figura de São José Sánchez del Río, o jovem mártir mexicano, é a encarnação viva desta solenidade. Durante a perseguição religiosa no México no século XX, José, com apenas 14 anos, foi capturado por se opor às leis que buscavam silenciar a Igreja. No cativeiro, suportou torturas cruéis, incluindo ter as solas dos pés cortadas e ser forçado a caminhar até o seu local de execução. Os seus algozes prometiam poupar a sua vida se ele negasse a sua fé em Cristo Rei. A sua resposta, porém, foi um constante e corajoso "¡Viva Cristo Rey!".
O seu grito final antes de ser morto não era de ódio ou de desafio político, mas um ato supremo de amor e fidelidade. Ele compreendeu, de forma visceral, que a verdadeira lealdade pertence a um reino que não é deste mundo. A sua coroa de martírio ecoa a coroa de espinhos do seu Rei. São José não empunhou armas para impor um domínio, mas ofereceu a sua própria vida como testemunho de que a realeza de Cristo sobre a consciência e a alma é mais valiosa do que a própria existência terrena.
Onde a Cruz se torna o trono
Unindo a doutrina de Quas Primas e o testemunho de São José Sánchez del Río, compreendemos que a solenidade de Cristo Rei é um convite desafiador a uma conversão do nosso conceito de poder.
O trono de Cristo é a Cruz. O seu cetro é a humildade. A sua vitória não é a destruição do inimigo, mas a redenção da humanidade através do amor sacrificial.
Como São José, somos chamados a proclamar a realeza de Cristo com a nossa vida. Isto significa viver e, se necessário, sofrer pelos valores do Evangelho, defendendo a primazia de Deus perante qualquer poder mundano.
A verdadeira liberdade é aderir ao que é eterno e verdadeiro. Submeter-se a Cristo Rei é a forma mais alta de liberdade, pois é alinhar a nossa vontade com Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Em última análise, a Solenidade de Cristo Rei do Universo é um lembrete de que, num mundo de efemeridades e poderes passageiros, há um único ponto de referência eterno. Celebrá-la é renovar a nossa fé de que, no fim, o amor será mais forte do que o ódio, e o Crucificado, na sua aparente derrota, reinará para sempre como o Senhor da História e do Universo. ¡Viva Cristo Rey!


